quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Novo plano para Nasa redefine destino da exploração espacial

 
A aposentadoria dos ônibus espaciais acontece no momento conturbado para a Nasa, em que o presidente dos EUA, Barack Obama, apresenta um novo plano para a agência e estabelece novas balizas para o Programa Espacial Americano.

O plano surge sob a promessa de ajudar a recuperar a economia do país e de revolucionar a exploração do espaço com voos tripulados mais baratos, duradouros, velozes e seguros. Para isso, estabelece o cancelamento do Programa Constellation, que levaria os americanos de volta à Lua, o aumento de U$ 6 bilhões no orçamento da Nasa para os próximos cinco anos e a transferência da construção de espaçonaves para a iniciativa privada.

O objetivo do pacote é aquecer a indústria aeroespacial, criar empregos, reduzir os custos das viagens ao espaço e apressar o desenvolvimento de tecnologias de ponta. O plano tem por meta, ainda, abrir caminho para que a Nasa reassuma sua função primordial - esquecida há algumas décadas - de realizar pesquisas científicas e promover inovação, conforme ressaltou Obama no discurso de pronunciamento da proposta.

Apesar do tom otimista do anúncio, as novas diretrizes foram recebidas com pouco entusiasmo. O cancelamento do Constellation implica a perda de cinco anos de testes e de U$ 9 bilhões já investidos no programa. Já a terceirização das espaçonaves suscita dúvidas sobre o preparo da indústria privada para assumir essa responsabilidade.

Causas
A decisão de cancelar o Constellation foi motivada principalmente pela inviabilidade do projeto. À pedido da administração de Obama, uma comissão avaliou o programa e chegou a conclusões nada animadoras: o orçamento havia estourado, o cronograma estava atrasado e o projeto era pouco inovador.


Desse diagnóstico nasceu a necessidade de estabelecer uma nova estratégia para a Nasa, que garantisse o futuro da viagem espacial americana, mas fosse compatível com a atual condição financeira do país.

José Bezerra Pessoa Filho, tecnologista sênior do Instituto de Aeronáutica e Espaço, adverte que é preciso analisar o plano de Obama com um olhar mais critico. Para ele, o que o presidente americano apresenta como “nova visão para a exploração espacial no século 21” seria apenas uma saída menos vexatória para suas decisões, já que indústrias comerciais, sobretudo aquelas ligadas ao setor de defesa dos EUA, trabalham no Programa Espacial Americano desde o início.

“O que ele [Obama] pretende é fazer com que novos atores entrem nesse mercado, sob a alegação de que isso deve baratear os custos de desenvolvimento. Lá, como aqui, volta-se ao debate de que a iniciativa privada pode fazer melhor e mais barato do que o governo. Certamente, tais expectativas são fundadas na realidade americana, sendo difícil contestá-las”.

Duília de Mello, pesquisadora brasileira do Centro de Vôo Espacial Goddard da Nasa, também não vê o envolvimento da iniciativa privada como grande novidade ou como ameaça ao programa espacial. “A Nasa já terceiriza a maioria das missões e trabalha lado a lado com a indústria americana. Mas o que está faltando agora é uma lista de prioridades antes de abrir concorrência. A segurança com certeza estará entre elas”, afirma.

Principais aspectos do plano de Obama

1 - Acréscimo de U$ 6 bilhões ao orçamento da Nasa para os próximos cinco anos
2 - Cancelamento do Programa Constellation, que previa a construção dos foguetes Ares e da nave tripulada Orion para levar o homem de volta à Lua
3 - Criação de 2.500 postos de trabalho até 2012
4 - Utilização dos recursos da Nasa para estimular o setor privado a desenvolver novas tecnologias e naves espaciais
5 - Apresentação do projeto de um novo foguete propulsor até 2015 e de um novo veículo tripulado para exploração espacial até 2025
6 - Extensão do tempo de operação da ISS por mais 5 anos, garantindo seu funcionamento até 2020
7 - Aproveitamento de parte do que já foi feito no Constellation para produzir uma versão reduzida da nave Orion, que sirva como veículo de escape da ISS em situações de emergência
8 - Realização de missões robóticas precursoras para fazer demonstrações tecnológicas e um reconhecimento prévio dos locais a serem explorados
9 - Envio de astronautas para um asteroide pela primeira vez na história entre 2025 e 2030
10 - Envio de astronautas para a órbita de Marte por volta de 2030

Missão à Asteróide é mais arriscada do que ida à Lua


A chegada do homem à lua foi uma conquista imensa. Agora, o presidente deu à Nasa uma tarefa ainda mais difícil, com certa qualidade hollywoodiana: enviar astronautas a um asteroide, uma rocha gigante em velocidade, daqui a apenas 15 anos.
Especialistas espaciais dizem que essa viagem poderia levar muito mais meses do que a viagem à lua e apresentar perigos muito maiores. "É realmente a coisa mais difícil que podemos fazer", disse Charles Bolden, administrador da Nasa.
Uma viagem a um asteroide pode fornecer treinamento vital para uma missão futura a Marte. A missão ajudaria a desvendar segredos sobre como nosso sistema solar se formou. E também poderia dar à humanidade o know-how para realizar algo que foi feito apenas em filmes por alguns heróis estrábicos de queixo quadrado: salvar a Terra de uma colisão com um asteroide mortal.
"Poderíamos salvar a humanidade. Vale a pena, não?", disse Bill Nye, consultor científico televisivo e vice-presidente da Planetary Society. O presidente Barack Obama esboçou a nova orientação da NASA durante uma visita ao Kennedy Space Center, na quinta-feira.
"Até 2025, esperamos que uma nova espaçonave projetada para longas viagens possibilite que iniciemos as primeiras missões tripuladas a lugares além da lua no espaço profundo", ele disse. "Vamos começar enviando astronautas a um asteroide pela primeira vez na história."
No dia em que o presidente anunciou a meta, a força-tarefa da Nasa, composta por cientistas, engenheiros e ex-astronautas, se reuniu em Boston para trabalhar num plano com o intuito de proteger a Terra de uma colisão catastrófica com um asteroide ou cometa.
A Nasa acompanha quase sete mil objetos próximos à Terra com diâmetro maior do que alguns metros. Desses, 1.111 são "asteroides potencialmente perigosos". Objetos maiores do que 1 km são grandes aniquiladores e atingem a Terra a cada algumas centenas de milhares de anos. Os cientistas acreditam que um asteroide com cerca de 9,5 km de diâmetro levou os dinossauros à extinção 65 milhões de anos atrás.
Aterrissar num asteroide e mudar seu curso no tempo preciso "iria demonstrar de uma vez por todas que somos mais inteligentes que os dinossauros e conseguimos evitar o que eles não conseguiram", disse o conselheiro científico da Casa Branca John Holdren.
Especialistas não têm em mente nenhum asteroide em particular para a viagem ao espaço profundo, mas existem algumas dúzias de candidatos, a maioria dos quais localizados até oito milhões de quilômetros da Terra. Isso é o equivalente a 20 vezes a distância da lua, que em média se localiza a cerca de 384 mil quilômetros da Terra.
A maioria dos asteroides candidatos tem menos de 400 metros de diâmetro. A lua tem cerca de 3.476 km de diâmetro. A viagem a um asteroide poderia fornecer pistas sobre a formação do sistema solar, porque os asteroides são essencialmente fósseis de 4,6 bilhões de anos, quando os planetas começaram a se formar, disse Don Yeomans, gestor do programa de Objetos Próximos à Terra do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.
E uma missão a um asteroide poderia ser um treinamento em solo para Marte, dada a distância e o ambiente desconhecido. "Se os humanos não conseguirem chegar a objetos próximos à Terra, eles não conseguirão chegar à Marte", disse o professor de astronáutica do MIT, Ed Crawley. Além disso, os asteroides contêm substâncias como hidrogênio, carbono, ferro e platina, que podem ser usadas por astronautas para produzir combustível e equipamentos - habilidades que também seriam necessárias numa visita a Marte.
Enquanto a Apolo 11 levou oito dias para chegar à lua e voltar à Terra em 1969, uma viagem de ida e volta típica a um asteroide próximo à Terra duraria cerca de 200 dias, Crawley disse. Isso exigiria uma nova propulsão e tecnologia de suporte de vida. E também seria mais arriscado. Abortar a missão numa emergência também deixaria as pessoas presas no espaço por várias semanas.
A agência espacial talvez precise desenvolver habitações especiais, escudos contra radiação ou outras novas tecnologias para permitir que os astronautas vivam no espaço profundo por tanto tempo, disse Bobby Braun, chefe de tecnologia da Nasa.
Embora um asteroide esteja mais distante que a lua, a viagem usaria menos combustível e seria mais barata porque o asteroide não tem gravidade. O foguete que levar os astronautas de volta para casa não teria que gastar combustível para escapar da força gravitacional do asteroide.
Por outro lado, por causa dessa falta de gravidade, a nave espacial não aterrissaria com segurança no asteroide, pois ricochetearia na superfície. Assim, seria necessário pairar próximo ao asteroide, e os astronautas teriam que se lançar ao espaço em direção à superfície, disse Yeomans.
Ao chegar lá, eles precisariam de uma combinação de mochilas propulsoras, estacas ou redes que lhes permitissem caminhar sem oscilar na superfície do asteroide ou flutuar para longe, ele disse. "É preciso algo para segurar você em solo", Yeomans explica. "Você se lançaria ao espaço cada vez que desse um passo."
Apenas o fato de estar lá poderia ser extremamente desorientador, disse o cientista planetário Tom Jones, copresidente da força-tarefa da Nasa para proteção da Terra de objetos perigosos. A rocha seria tão pequena que o sol daria voltas pelo céu e o horizonte teria apenas alguns metros de extensão. A oito milhões de quilômetros de distância, a Terra se pareceria com um mero projétil no céu. "Estar num asteroide é estar um ambiente estranho e desconhecido", Jones disse.
Mas Jones, ex-astronauta, disse que isso não impediria os astronautas de competir para fazer parte da missão: "Temos muitas pessoas entusiasmadas em relação à exploração de um mundo antigo e desconhecido."

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