domingo, 18 de julho de 2010

Estrangeiros caçam no Rio meteorito de R$ 1 milhão


Rio - A queda de um meteorito, de grande significado para a Ciência, virou do avesso a rotina de Varre-Sai, pacato município com pouco mais de 8 mil habitantes no Noroeste Fluminense. O fenômeno provocou verdadeira caça ao tesouro. A prefeitura quer comprar por R$ 18 mil pedra de 11 centímetros e oferece bicicletas de recompensa para quem encontrar mais fragmentos. Especialista calcula que há um de 20 quilos, cujo valor pode chegar a mais de R$ 1 milhão.


Germano mostra onde encontrou o pedaço do meteorito: “Vi onde a ‘coisa’ caiu, mas só no dia seguinte tive coragem de pegar” | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Até agora, ninguém cobrou a bicicleta, mas o anúncio de que esta verdadeira mina de ouro está perdida no solo atiça o espírito Indiana Jones de colecionadores e pesquisadores. “Com o impacto, deve estar enterrado em algum ponto da região”, observa o astrofísico da Uenf Marcelo de Souza. Ele concluiu isso a partir de relatos de quem viu o meteorito cair. A pesquisadora Maria Elizabeth Zucolotto, especialista em meteoritos do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, já varreu a região com um detector de metais. Em vão.

A pedra maior pode render R$ 1,04 milhão a seu descobridor. “Cada grama de um meteorito pode valer até R$ 52”, avalia Souza. O tesouro atraiu o casal de colecionadores bolivianos Benjamin Rivera e Cláudia Avellar, que comprou de agricultores, por módicos R$ 176, três pedaços. A cobiça custou caro: dia 7, eles foram presos no Aeroporto Internacional Tom Jobim ao tentar embarcar com elas. A Justiça Federal relaxou a prisão, mas eles vão responder por contrabando. A compra deveria ter sido comunicada ao Departamento Nacional de Produção Mineral.

Na cidade onde agora todos só andam olhando para o chão, há quem se divida entre a busca por restos do meteorito e a reza forte. É que o fenômeno espalhou, em velocidade meteórica, histórias de discos voadores e de apocalipse. “Eu rezo todo dia para que o mundo não acabe”, admite o agricultor José Lima, 55, enquanto busca a pedra milionária.

Rocha ajudará a entender melhor o Sistema Solar

A importância da rocha já foi atestada pelos especialistas do Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em Campos.

O meteorito é do tipo condrito, cujas características rochosas, segundo pesquisadores, não sofreram modificações desde a formação do Sistema Solar. “Tudo que vem do universo é considerado um extraterrestre e nos ajuda a entender a formação dos planetas”, ressalta Maria Elizabeth Zucolotto, que já examinou a pedra encontrada por Germano.

No Brasil, onde há 19 anos não caía um meteorito, havia só 58 corpos celestes desse tipo catalogados, sendo que o último que caiu no estado foi há 141 anos, em Angra dos Reis.

Riqueza para a Ciência e para o bolso dos varre-saienses. Tanta badalação faz o comércio e os hotéis da cidade registrarem crescimento de até 20%. “As pessoas vêm atrás de meteorito e acabam levando nosso produto”, festeja Geraldina Ridolphi, 74, dona de adega que fabrica vinho de jabuticaba. “Há muito tempo não tínhamos uma procura tão grande por vagas”, opina Gilson Novaes, dono de uma pousada e um restaurante.

“ESTA FAMA LITERALMENTE CAIU DO CÉU"
EVERARDO FERREIRA, PREFEITO DE VARRE-SAI

A queda do meteorito causou frisson em Varre-Sai. Segundo livro de visitas do governo municipal, pelo menos 600 pessoas de várias partes do País e até do exterior já passaram por lá atrás da novidade histórica. O prefeito já sonha com um Museu Espacial e um observatório astronômico e guarda a pedra preciosa em um cofre.

1. Como o município está lidando com o assunto?
A fama repentina, literalmente, caiu do céu para Varre-Sai, cuja economia gira em torno da produção de 70 mil sacas de café por ano. Vamos aproveitar essa importante descoberta para a Astronomia e incrementar o turismo.

2. De que forma?
Através de parcerias, sobretudo com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF), com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e com o Clube de Astronomia de Campos. Nossa intenção é construir um Museu Espacial e um observatório astronômico com potentes telescópios. Essas iniciativas vão atrair turistas, gerar empregos e contribuir para uma melhor formação educacional de nossos mais de 4 mil estudantes. Longe de qualquer tipo de poluição, temos uma vista maravilhosa do céu, principalmente à noite.

3. O senhor está negociando a compra do meteorito?
Estamos dispostos a pagar até R$ 18 mil ao senhor Germano. Nosso desejo é colocá-lo em exposição no futuro museu. A pedido dele, estamos guardando o meteorito num cofre da prefeitura. Não queremos que ela vá parar nas mãos de especuladores.

4. A prefeitura pensa em homenagear a comunidade?
Sim, vamos erguer um marco no local onde o meteorito caiu, em Santa Rita do Prata.

Agricultor que viu a queda e achou maior pedaço no quintal vira estrela

O agricultor Germano da Silva Oliveira, 62 anos, é a estrela do momento em Varre-Sai. Foi ele quem viu cair no dia 19 de junho, por volta das 17h30, e achou, na manhã seguinte, a parte maior do meteorito, com cerca de 580 gramas e 11 centímetros. A rocha galáctica foi encontrada por ele próximo a uma plantação de aipim, a menos de 50 metros de sua casa humilde em Santa Rita do Prata. Mais três pedaços foram encontrados lá e um outro na cidade vizinha de Guaçuí, no Estado do Espírito Santo.

Germano conta que, no fim da tarde daquele dia, ouviu um forte estrondo e olhou imediatamente para o quintal. “Observei o céu e vi um grande aro vermelho, seguido de um rastro de fumaça, que despencou de forma veloz, acompanhado de um barulho parecido com o de um avião supersônico. Vi onde a ‘coisa’ caiu, mas somente no dia seguinte é que tive coragem de ir lá pegar”, detalha o agricultor, que levou o meteorito até a Escola Municipal Elídio Valentim de Moraes.

Professora de Geografia, Filomena Ridolphi, que havia participado da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) 2010, patrocinada por O DIA e pela Consulado Americano no Rio, foi quem percebeu a importância da rocha, então encaminhada para estudos.

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